A Ilha das Flores, que intitula o curta-metragem de Jorge Furtado, é um local na cidade de Porto Alegre aproveitado como depósito para o lixo. O curta mostra, de forma sarcástica e impactante, a trajetória de um tomate, que se inicia em sua produção, comercialização até chegar a uma dona de casa que o adquire e descarta, por considera-lo impróprio para o consumo de sua família. Ao ser rejeitado pela dona de casa, o tomate vai para a Ilha das Flores junto com outros dejetos, onde um produtor de suínos escolhe quais alimentos ali descartados são próprios para o consumo dos porcos. A partir disso, moradores dos arredores que vivem em condições subumanas, disputam com os porcos esses alimentos, em uma clara alusão ao desperdício de alimentos que, caso houvesse justiça social, seria destinado à alimentação de quem necessita. Os humanos que, por razões estruturais de desemprego em uma sociedade desigual, são colocados na mesma condição de porcos que vasculham o lixo para se alimentar. Enquanto isto, há a indiferença do restante da sociedade para este problema, que não se importa em desperdiçar o alimento que deveria ir para a mesa de outros. Para tornar a história mais sarcástica e, deste modo, tecer a crítica a esses costumes que não deveriam ser naturais, o narrador menciona repetidamente que estas pessoas alienadas possuem um telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, como se dissesse “É assim que se comporta um animal supostamente superior? ”.
O filme, apesar ter sido gravado em
1989, retrata a sociedade atual, tendo como enfoque seus problemas de ordem
social, econômica e cultural, na medida em que contrasta a força do apelo
consumista, os desvios culturais retratados no desperdício, e o preço da
liberdade do homem, enquanto um ser individual e responsável pela própria
sobrevivência. Através da demonstração do consumo e desperdício diários de
materiais (lixo), o autor aborda toda a questão da evolução social de pessoas,
em todos os sentidos. Tornam-se ainda evidentes todos os excessos decorrentes
do poder exercido pelo dinheiro em uma sociedade onde a relação entre
opressores e oprimidos é alimentada pela falsa ideia de liberdade de uns, em
contraposição à sobrevivência monitorada de outros.
A aplicação deste curta em sala de aula é muito vasta e
multidisciplinar, podemos apresentar aos alunos que Ilha das Flores é um
documentário que ainda mantém sua atualidade e que tem como ponto forte a
crítica ao desperdício de alimentos, nos convidando a assumir a
responsabilidade frente a este problema. Apresenta também a relação de poder
existente em nossa sociedade, que converte os mais miseráveis a condições
subumanas de vida.
Outras causas sociais levantadas
pelo curta que podem ser discutidas com os alunos são o modelo de produção capitalista
e a maneira que este nos é imposto, representados no curta por suas personagens
e pelo dinheiro das mesmas, deixando claro um importante produto do capitalismo
e da liberdade do ser humano, a desigualdade social. O curta mostra que, apesar
de todos nós termos o telencéfalo altamente desenvolvido, polegares opositores
e sermos livres, nem todos temos dinheiro, e não nos tornamos menos vitimas de
uma sociedade altamente embasada no consumo e que tem o lucro e o prazer
socialmente criado como objetivos finais.
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