Blog referente ao trabalho desenvolvido pelos alunos da Unesp de Ilha Solteira em três diferentes escolas, sob orientação de Denise Gallo Pizella, no qual são apresentados filmes e documentários da temática ambiental. Aqui relataremos a experiencia de utilizar essas midias em sala de aula, ajudando outros professores a explorarem de maneira didática a temática ambiental.
Wall-E é um filme lançado em junho de 2018, com direção de Andrew Stanton, conta a
história de um planeta Terra futurista devastado pela ação inconsequente da
humanidade. Para
sobreviver, os humanos abandonaram a Terra e decidiram viver em um cruzeiro espacial.
Apenas os robôs permaneceram, entre eles Wall-E, que tem a função de vasculhar
o planeta e compactar o lixo que se espalha por todos os locais (na verdade, a
Terra é apresentada como sendo um gigantesco depósito de resíduos!), em uma
tentativa de salvá-lo. O filme mostra a paixão de Wall-E pelo robô EVA, e nos
apresenta um mundo no qual a humanidade está absolutamente dependente das máquinas.
Wall-E propõe que deixemos de
simplesmente demonstrar preocupação e passemos a realizar ações que encaminhem
de fato o planeta a uma realidade sustentável e não agressiva ao meio.
Wall-E possibilita também uma
crítica sobre a virtualização das relações sociais que, em extremos, podem
conduzir a uma passividade das pessoas quanto ao mundo que nos rodeia e com o qual
somos responsáveis. Ao nos colocar frente a robôs que são mais proativos que os
humanos e nos mostrar como estes podem facilmente ser dominados por máquinas
que realizam todo o trabalho essencial para a manutenção de nossas necessidades
diárias, nos faz indagar sobre as escolhas de nossa civilização e o poder que
temos para moldar nosso futuro.
A Ilha das Flores, que intitula o
curta-metragem de Jorge Furtado, é um local na cidade de Porto Alegre
aproveitado como depósito para o lixo. O curta mostra, de forma sarcástica e
impactante, a trajetória de um tomate, que se inicia em sua produção,
comercialização até chegar a uma dona de casa que o adquire e descarta, por
considera-lo impróprio para o consumo de sua família. Ao ser rejeitado pela
dona de casa, o tomate vai para a Ilha das Flores junto com outros dejetos,
onde um produtor de suínos escolhe quais alimentos ali descartados são próprios
para o consumo dos porcos. A partir disso, moradores dos arredores que vivem em
condições subumanas, disputam com os porcos esses alimentos, em uma clara
alusão ao desperdício de alimentos que, caso houvesse justiça social, seria
destinado à alimentação de quem necessita. Os humanos que, por razões
estruturais de desemprego em uma sociedade desigual, são colocados na mesma
condição de porcos que vasculham o lixo para se alimentar. Enquanto isto, há a
indiferença do restante da sociedade para este problema, que não se importa em
desperdiçar o alimento que deveria ir para a mesa de outros. Para tornar a
história mais sarcástica e, deste modo, tecer a crítica a esses costumes que
não deveriam ser naturais, o narrador menciona repetidamente que estas pessoas
alienadas possuem um telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor,
como se dissesse “É assim que se comporta um animal supostamente superior? ”.
O filme, apesar ter sido gravado em
1989, retrata a sociedade atual, tendo como enfoque seus problemas de ordem
social, econômica e cultural, na medida em que contrasta a força do apelo
consumista, os desvios culturais retratados no desperdício, e o preço da
liberdade do homem, enquanto um ser individual e responsável pela própria
sobrevivência. Através da demonstração do consumo e desperdício diários de
materiais (lixo), o autor aborda toda a questão da evolução social de pessoas,
em todos os sentidos. Tornam-se ainda evidentes todos os excessos decorrentes
do poder exercido pelo dinheiro em uma sociedade onde a relação entre
opressores e oprimidos é alimentada pela falsa ideia de liberdade de uns, em
contraposição à sobrevivência monitorada de outros.
A aplicação deste curta em sala de aula é muito vasta e
multidisciplinar, podemos apresentar aos alunos que Ilha das Flores é um
documentário que ainda mantém sua atualidade e que tem como ponto forte a
crítica ao desperdício de alimentos, nos convidando a assumir a
responsabilidade frente a este problema. Apresenta também a relação de poder
existente em nossa sociedade, que converte os mais miseráveis a condições
subumanas de vida.
Outras causas sociais levantadas
pelo curta que podem ser discutidas com os alunos são o modelo de produção capitalista
e a maneira que este nos é imposto, representados no curta por suas personagens
e pelo dinheiro das mesmas, deixando claro um importante produto do capitalismo
e da liberdade do ser humano, a desigualdade social. O curta mostra que, apesar
de todos nós termos o telencéfalo altamente desenvolvido, polegares opositores
e sermos livres, nem todos temos dinheiro, e não nos tornamos menos vitimas de
uma sociedade altamente embasada no consumo e que tem o lucro e o prazer
socialmente criado como objetivos finais.
O documentário Lixo
Extraordinário conta a história
de vida de Vik Muniz que, originário de uma família de classe média baixa em
São Paulo, começou a vida trabalhando recolhendo lixo em lanchonetes e, após um
ser baleado por acidente na perna, acabou indo para os Estados Unidos, onde
começou a se interessar pelo mundo das artes. Vik trabalha com materiais como
chocolate, areia, açúcar, cordões e outros e, seguindo seu estilo artístico,
decidiu que trabalharia com um grupo pudesse obter algum retorno com suas obras
artísticas. Deste modo, o artista optou por trabalhar com catadores de material
reciclável do lixão presente em Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Ao decorrer
do projeto, que teve duração de dois anos, se observam transformações na visão
de mundo dos catadores envolvidos com o projeto, sendo que, ao seu final, quando
Vik leiloa as obras, os catadores tem uma significativa mudança de vida com o
retorno financeiro, que é aplicado para compra de caminhão, equipamentos e
inauguração de um centro de ensino no Jardim Gramacho, alcançando condições de
vida mais dignas.
Levantando a questão da aplicação
deste documentário para o ensino, é importante ressaltar a visibilidade que ele
traz para as questões socioeconômicas dos catadores informais, que são atraídos
para o trabalho em lixões ao céu aberto, e acabam por viver nesses locais, em
condições criticas de pobreza e saneamento. A insalubridade a qual os catadores
estão submetidos acarretam-lhes problemas de saúde e, em alternativa a este
problema, pode-se discutir a importância de estes importantes agentes
ambientais atuarem em cooperativas de reciclagem em locais adequados, com o uso
de equipamentos de proteção e com condições adequadas de trabalho.
O filme também levanta a problemática
ambiental da disposição de resíduos sólidos urbanos, nos trazendo a reflexão da
importância do catador e da reciclagem ao diminuir os resíduos sólidos que são
descartados, e da importância econômica que estes tem no nosso país. Nesta
esfera, pode ser apresentada ao aluno a discussão sobre o consumismo e
desperdício de materiais diversos que poderiam ser reutilizados e reciclados ao
invés de serem tratados como rejeitos, de modo a implementar a política dos
três R’s (Reduzir, Reaproveitar e Reciclar), a qual permite a maior
durabilidade dos aterros sanitários. Abre-se
também um espaço para discussões sobre valores, desperdício, o "ser e o
ter" nas sociedades contemporâneas e as questões sociais inerentes à
realidade vivenciada pelos catadores de recicláveis no meio daquilo que,
genericamente, se denomina "lixo".
Pode-se discutir a melhor
alternativa existente para a disposição final dos resíduos sólidos urbanos, ou
seja, os aterros sanitários ao invés dos lixões a céu aberto. Neste momento, se
apresenta os impactos ambientais para o solo e águas superficiais e
subterrâneas que se sucedem com os lixões e como podem ser minimizados por meio
de aterros sanitários. O questionamento a respeito do tipo de destinação final
realizado pela prefeitura do município onde os estudantes se situam e uma
discussão a este respeito pode ser realizada neste momento.
Projeto de Extensão Universitária "Cinema e Meio Ambiente", financiado pela PROEX e desenvolvido pelos alunos da Unesp do Campus Ilha Solteira em escolas do município, sob orientação da Profa. Denise Gallo Pizella.
Nesta página serão apresentados os filmes e documentários relacionados à temática sociambiental que utilizamos em sala-de-aula, com resenhas criadas pelos estudantes que participam do Projeto. Nossa intenção é realizar uma reflexão acerca dos problemas socioambientais em termos de suas causas, consequências e possibilidades de mudanças de rumo, em busca a um novo paradigma de desenvolvimento.